sábado, 3 de julho de 2010

Toy Story e as dores do crescimento


"Mãe, algumas coisas que você vai precisar para ver esse filme: um lenço, um balde, um calmante e um ombro amigo para chorar". Assim, sem tirar nem pôr, Lucas, meu filhote genial de 9 aninhos, me ligou tão logo saiu da sala do cinema depois de assistir "Toy Story 3''.
Ele sabia que, lá em casa, era eu a mais ansiosa pelo fecho da trilogia da Pixar, e deve ter intuído, conhecendo a mãe que tem, que eu daria vexame no cinema diante do último capítulo da saga de Woody, Buzz e companhia.
Bingo! Dali a dois dias, lá estava eu precisando de um lenço, um balde, um calmante, mas tendo um ombro pra chorar: o dele, aquela criança que, a exemplo do Andy do filme, está crescendo e deixando seus brinquedos para trás.
E foi nesse ponto que Toy Story 3 calou fundo no meu coração: se os dois filmes anteriores eram sobre a lealdade e a fidelidade, esse é sobre os ritos de passagem da vida, algo que para mim nunca foi muito tranquilo.
O crescimento de Andy é acompanhado necessariamente pela obsolescência daqueles brinquedos que o acompanharam até ali. Ficar velho, perder a utilidade, ser descartado. São fantasmas que sempre foram muito presentes para mim, uma agnóstica convicta que acha que não haverá nada além de decomposição orgânica depois da morte. E para quem, por isso, a morte é um tabu.
Junte-se a isso o vislumbre de que meus filhos, o Lucas mais que o Felps, estão crescendo e se tornando independentes de mim, e está pronto o coquetel lacrimoso.
Para alguém que, como eu, gosta da constância, do amor que dura, de cultivar as amizades antigas e de guardar tranqueiras, o dilema de Andy _se desfazer ou não dos seus ''amigos'' da vida toda_ calou fundo.
E no Lucas também. Logo depois do filme, ele passou a brincar novamente com seus brinquedos que pegavam pó na estante há meses. Foi lindo vê-lo dar uma nova chance a bonecos, carrinhos e bolas que, a exemplo dos personagens do filme, têm uma história com ele e com a nossa família.
E, afinal, qual a surpresa? Ele tem NOVE anos. Não deveria ser natural que uma criança nessa idade gastasse mais tempo em batalhas imaginárias entre aliens do Ben 10 e heróis da Marvel? Ou montando seus Legos Star Wars antes tão cobiçados?
Acontece que a infância, como tudo, está sendo acelerada além da conta. E Toy Story é, acima de tudo, um libelo a favor da brincadeira, da fantasia, de ser criança. E por isso é a mais bela e a mais atemporal fábula produzida pelo cinema desde... Wall Disney?
Por isso, também, os óculos 3D são plenamente dispensáveis neste filme. Toy Story não vale pelos efeitos especiais, mas pela história. Não impressiona pela tecnologia, mas pelo que tem de mais ancestral e humano: a história de amizades que resistem à inexorável passagem do tempo e que fincam raízes na memória, esse arquivo que, com o passar dos anos, vai guardando não só nossas alegrias, mas nossas nostalgias, nossos medos e nossas angústias.